Estou em São Paulo, a trabalho. O hotel, apesar de bom, não tem demanda para o jantar, então o buffet fica com aquela cara esquisita, como se tivesse uma superfície sólida. Quem me conhece sabe que eu de fresco não tenho nada, mas pagar mais de R$50,00 por aquilo, mesmo sendo na conta da empresa, não me pareceu justo, então fui tentar jantar na rua.
Uma caminhada rápida pela Rua Araújo, Praça da República e achei um pequeno mall com alguns restaurantes. Em um deles “Festival de Sopas”. Aqui tem gente até de regata, mas pros cariocas está frio, então gostei da idéia da sopa e entrei. Só depois de entrar olhei pro lado e me deparei com um casal de rapazes; olhei pro outro e mais um casal, ao redor – para não dar margens ao título de exagerado – entre 60% e 90% do público era homossexual.
Não posso dizer que me senti totalmente a vontade, mas achei que seria muito feio da minha parte, levantar e ir embora ‘só’ por causa disso. Até porque, verdade seja dita e justiça feita, em poucos ambientes você (e suas opções) é tão respeitado como nos points GLS. Mas o tempo foi passando, o espaço diminuindo e eu comecei a me sentir uma espécie de alvo. Só as horas, eu informei umas 12 vezes. Bateu aquele desconforto e eu acabei indo embora e escolhendo um ambiente mais tradicional.
Mais tranqüilo, enquanto tomava um vinho português, comecei um introspectivo processo de autocrítica, que se não ajuda também não atrapalha...e pensar é sempre bom! A palavra horrorosa, com significado ainda pior, que não me sai da cabeça é PRECONCEITO!
Tenho muita dificuldade de me aceitar como preconceituoso e estou realmente correndo em minha defesa, tentando de toda maneira refutar esta pecha. E acho que encontrei a explicação.
Segundo o Aurélio (dicionário) preconceito “é o conceito ou opinião formados antecipadamente, sem maior ponderação ou conhecimento dos fatos, a idéia preconcebida. É também o julgamento ou opinião formada sem se levar em conta o fato que os conteste”, então realmente não é isso que eu sinto. O que eu tenho é conceito!
Não posso lamentar, muito menos me condenar, por minhas convicções heterossexuais. Costumo dizer que isso é de família, afinal lá em casa (falo da família inteira), não saiu nenhuma bichinha! Desde cedo, cedo mesmo tipo 3 anos de idade, viadinho, boiola, mocinha, fresco e assemelhados, sempre representaram xingamentos. Dizer que o cara brinca de boneca, pinta a unha, faz sobrancelha, idem. Seja por isso, pela descendência nordestina, pela genética (pra quem acredita) ou por outra razão que eu, em minha ignorância, desconheça, a heterossexualidade da família é incontestável. Como eu disse acima, é um conceito.
Por favor, não confundamos conceito com preconceito e muito menos com discriminação, essa sim é reprobabilíssima, inaceitável! Mas também é verdade que a palavra está na moda e tudo agora é discriminação, então vou esclarecer o que penso disso.
Não sou contra os homossexuais, como não sou contra os fumantes, nem contra quem grita. Sou contra a opção sexual dos homossexuais, contra a opção do fumo e contra o grito, apesar de todas estas opções serem lícitas, aos olhos da sociedade e da lei.
Sou ainda mais contrário aos exageros de qualquer natureza. Ou seja, sou contra o hábito de fumar demais, gritar demais e também contra o hábito de chocar/mostrar demais sua opção sexual, seja ela homo, hetero ou bi !!! Chupão, ‘passação’ de mão, língua nos peitos, dedo lá e acolá, sacanagem na praia ou na piscina cheia, podem até não ter hora (qualquer hora é hora), mas têm que ter lugar! Seja entre homem e mulher, mulher e mulher ou homem e homem. O nosso direito termina, onde o do outro começa e começa, onde o de um outro termina.
Apesar do meu jeito peculiar, sou pela moderação. Não gosto das atitudes exageradas em nenhum sentido, apesar de aceitá-las. É sempre admirável lidar com alguém que defende suas convicções, ainda que eu não comungue delas. Tenho amigos viados (gays), como tenho fumantes e ‘gritantes’. Admiro e elogio os discretos assumidos, isto é, aquele que assume, mas trata a questão de forma sutil, namorando onde é lugar de namoro, fumando onde é lugar de fumar e gritando em lugar que se pode gritar.
Esses são tão convictos, que não ligam para rótulos ou adjetivos, pois são o que são! E por isso, merecem não apenas respeito (isso todo mundo merece), mas meus parabéns! Os meus amigos, por exemplo, não se ofendem com minhas brincadeiras, quando debocho, sacaneio e até critico a opção sexual, a fumaça nos pulmões ou o grito estridente, pois são como e o que são, mas acima de tudo sabem, aceitam e gostam do que são!
Guardadas as devidas proporções, me enquadro no exemplo. Não me ofendo por ser chamado de machão, chauvinista, retrógrado. Posso até aceitar com ressalvas, eventualmente não gostar, mas entre não gostar e me ofender, há uma enorme distância!
Mais uma vez tentando esclarecer através de exemplos, tratemos do racismo. Discriminar por causa da cor; acreditar na superioridade de uma raça em relação a outra. Isso é racismo e o racista filho da p¨*#@(*&%!/> tem que arder no mármore do inferno e depois voltar da cor que ele discriminava. Mas chamar o cara de negão, preto, carvão é brincar com a cor e não ser racista! Afinal chamar o outro cara de branquelo, vela, transparente, fantasma não é discriminação nem racismo. Digo com tranqüilidade, pois não sou branco, aliás exatamente como 96% da população do nosso país e não ligo para nenhum adjetivo relativo à cor da minha pele. Minha caçula, inclusive, diz que é “pretinha”!
Neste ponto, o assunto toma o rumo de uma postagem anterior que tratou do buillying. Depois que a palavra entrou na moda, tudo é bullying, tudo é discriminação. O que gera para nós uma puta insegurança social, pois nada mais pode ser dito.
Preconceito e discriminação são fruto de absoluta ignorância e devem ser severamente reprimidos, mas só quando ocorrerem de verdade. Conceito a respeito de hábitos, escolhas e atitudes não representam - necessariamente - discriminação!
Não posso me sentir obrigado a ensinar pra minhas filhas que algo com o que não concordo é certo ou mesmo indiferente. Fumar é lícito, gritar também e nem por isso minhas filhas podem fazer isso, ao menos enquanto eu puder evitar, o mesmo se aplica a opção sexual, salvo em caso de questão fisiológica, o que certamente não ocorre, ou eu já saberia.
Mas se depois que as opções não mais dependerem da criação que recebem, se laguma escolha não for exatamente a que eu gostaria, a única alternativa é respeitar, assim como eu respeito todas as escolhas lícitas de qualquer um.
Espero que num futuro próximo, consigamos acertar a interpretação destes vocábulos sociológicos, pois isso irá facilitar demais nossa vida neste mundo tão moderno e heterogêneo.